Breve desabafo

Uma vez me disseram, que o medo te aproxima do que você teme. Essa é uma verdade das grandes.

Eu não posso falar muito a respeito, já que esse fulano vive ao meu lado. Mesmo assim, eu faço o possível e o impossível para manter o pensamento positivo e isso é uma coisa boa pra se fazer a respeito.

A verdade é que sempre fui insegura em todos os tipos de relacionamentos. Essa falta de confiança teve início por volta dos meus cinco anos, quando encontrei na pasta de trabalho do meu pai uma foto em que ele estava na cama com a amante dez anos mais nova.

Na época eu não sabia o que significava aquilo, mas tinha certeza que tratava-se de algo ruim pois fez a minha mãe chorar durante toda a noite e nos dias seguintes. Passei a entender a dimensão da coisa após uns dois anos, e não entendia como os dois conseguiam continuar sob o mesmo teto e dormindo no mesmo quarto, quando tinham os olhos vazios. Como se odiassem profundamente um ao outro mas precisassem manter aquilo. Ah, o famoso casamento de aparências que conheci bem mais tarde.

Por isso não foi tanta surpresa quando após uma jogada errada, em uma mesa errada, num dia errado o meu pai perdeu tudo o que nos restava e eles se separaram. Desde então somos só eu e a minha mãe, claro que um ou outro namorado eventual que surgia na vida dela, que coincidentemente nunca dava muito certo. Por vezes eu questionei se era uma maldição de família e se eu teria o mesmo destino dela, até porque eu sempre soube da verdade: Ela não se casou com o meu pai por amor. Não aquele amor que as pessoas dizem tirar o fôlego. Ela só amou assim uma vez, e o destino resolveu interferir tirando a vida dele um dia depois do noivado. Foi onde o medo surgiu, assim como a total descrença no amor.

Com isso acabei ao longo do tempo empurrando pra longe pessoas boas, e isso deixou um enorme remorso dentro de mim. Há alguns meses, eu dizia que essa coisa de amor era banal, que as pessoas acreditavam amar porque queriam amar e que monogamia era para os fracos. Ora, o próprio Raul dizia: Quem gosta de maçã irá gostar de todas, porque todas são iguais. Talvez seja isso mesmo, e talvez existam as exceções. Eu disse isso mesmo? Sim, disse e de hoje em diante prometo a mim mesma não afirmar que algo não existe simplesmente por nunca ter sentido.

Desta vez a coisa mudou. Não tenho mais aquela infinidade de interrogações na cabeça. Apesar de sentir certa insegurança as vezes, eu apenas confio. Ele conseguiu dentre tantas pessoas alcançar essa parte do meu ser que ficou inacessível por tanto tempo. Gosto de saber que tenho um sexto sentido aguçado, mais ainda por saber que ele ainda não se manifestou de forma negativa. Mas claro que tem uma porcentagem bem pequena de medo, escondida dentre tantas sensações fantásticas mas que ainda assim está lá: O medo de cometer o mesmo erro que o meu pai, e apostar todas as fichas em uma jogada errada que me fará perder o que resta.

Podem voltar para os seus afazeres agora, se é que chegaram até aqui.