Once Upon a Time…

Não, não me refiro a Série – ótima diga-se de passagem. Esse título retrata de certa forma a minha vida um ano atrás.

Eram sonhos, projetos, expectativas e muita, mas muita coragem. Até hoje ouço de algumas pessoas: “Quão corajosa você foi ao viajar assim do nada, ao se arriscar sem saber o que encontraria pela frente”. Mas esse é o ponto. O risco. Sempre segui tudo ao pé da letra e mantive a minha vida nos eixos, sempre pacífica, sempre acenando e sorrindo, porém cheguei a um ponto em que muita coisa estava envolvida, a minha busca pelo amadurecimento, a monotonia, o stress que a cidade grande causava, os relacionamentos frustrados, tudo isso somado à minha enorme vontade de rodar o Mundo, conhecer novas pessoas, dar a cara aos ventos Vienenses e me abrir ao novo.

Então lá fui eu, conheci algumas famílias através do AupairWorld, conversei com algumas e acabei optando pela minha família em Klagenfurt. Mas essa é a parte da história que muitos de vocês sabem.

Eu assumo que o começo não foi nada fácil. Nesse tópico fica o meu imenso agradecimento à minha mãe e às minhas amigas pelo suporte, atenção e broncas quando faziam-se necessárias. Porém, devo confessar que exagerei na maioria das minhas lamentações e não me envergonho de falar isso.

Me desculpem, mas atire a primeira pedra quem nunca se sentiu estranho em um lugar novo por mais maravilhoso que fosse. É tudo diferente. Absolutamente tudo! E não me refiro somente ao clima, ao ar, ou às pessoas, falo do convívio mesmo, dos hábitos, a forma de lidar com as situações, a distância e saudades da família. Imagina um pacote com tudo isso caindo direto no colo de alguém que nunca passou mais que 1 semana longe da mãe? É um filme de terror! Mas no meu caso, foi um filme que mudou completamente a minha forma de enxergar o Mundo.

Nas minhas primeiras semanas, eu costumava trabalhar 11-12 horas por dia – ou mais. No final do dia eu estava exausta e tudo o que eu queria era tomar um banho e dormir para estar de pé no dia seguinte às 06:00 am. Isso tornava-se tarefa difícil ao ouvir da minha Host que as crianças estavam dormindo no meu quarto, na minha cama e que ela não queria acordá-los naquele momento. – respira, acena, sorria e espera – Acabou tornando-se uma espécie de mantra diário por um tempo. Quando eu conseguia entrar no meu quarto, já passava das 11:00pm e era hora de falar com a minha família e com os meus amigos, estávamos em Dezembro e há 3 horas de diferença.

No meu primeiro final de semana em terras Européias, fui conhecer a Itália. Essa viagem estava programada desde Outubro/14, eu tinha feito um amigo Italiano e ia me arriscar em novos solos. Foi uma viagem breve, de vistas panorâmicas, comida fascinante, pessoas interessantes e tudo o que a Itália tem a oferecer.

Voltei a Áustria, e durante a minha segunda semana não coloquei os pés fora de casa. Todos diziam: Saia! Vá conhecer gente nova. Pare em um bar qualquer e puxe conversa com qualquer pessoa. Eu até tentei, no ônibus voltando do curso de Alemão, puxei conversa com uma menina que estava sentada ao meu lado. Foi a primeira Austríaca que eu conhecia e falava inglês sem dificuldade. A conversa foi ótima até descobrir que ela tinha só 17 anos. E voltei para a minha Host Family.

As minhas crianças eram adoráveis. Meigas, espertas, falavam português melhor do que Alemão, pois a Au Pair anterior também era brasileira e a minha Host também falava. Não consigo dizer que gostava mais de um do que de outro, tive fases com cada um deles, e as aproveitei ao máximo.

Na minha terceira semana, conheci uma vizinha brasileira, que se tornou uma espécie de anjo da guarda enquanto eu estava lá. Toda vez que batia aquela saudade da comida Brasileira era como se ela adivinhasse, pois me ligava chamando para almoçar com ela. Quando eu não precisava fazer hora extra, era a melhor hora do dia, degustar um dos pratos típicos de mãe que a Angela fazia.

Na mesma época conheci uma outra brasileira que já era amiga da Angela, essa era a minha fada madrinha moderna, sábado à noite “The Claddagh”, “Stadtkrämer” e alguns outros bares na região, conseguiam fazer a semana cansativa valer a pena. E dessa forma, fui conhecendo pessoas novas.

No Natal, eu tive a minha primeira experiência com a neve! Acordei com um barulho assustador, que na minha mente tratava-se da guerra dos clones, ou algum avião perdendo o controle ao lado da minha janela. Saltei da cama por volta de 5:30 am para uma das cenas mais fascinantes que eu já tinha presenciado. O barulho era na verdade um Schneepflug, nome dado a um carro responsável por tirar a neve das ruas e das estradas, para que haja a circulação, de outro modo é impossível. E a neve estava lá, caindo sobre as árvores ao lado da minha janela, eu já estava louca para colocar as minhas botas e desbravar aquele fenômeno. Era dia 24 de Dezembro, e o meu dia tinha começado bem com aquela cena, até perceber que eu estava longe de casa e que nunca tinha passado o Natal sozinha.

Não posso negar que a minha Host foi incrível, uma vez que eles não comemoravam o Natal e fariam aquilo por mim. Montamos uma árvore, decoramos, fizemos um banquete, mas ainda assim eu me sentia incompleta. Acho que fui acumulando uma série de acontecimentos, o lugar, a distância, a saudade, o fim do curto relacionamento com o Italiano, que até aquele ponto era a pessoa mais próxima, e outras coisas menores. Mas aí caiu a ficha, percebi onde eu estava, a chance que tinha nas mãos, e resolvi extrair o melhor daquilo.

Fizemos a nossa Ceia, e por volta de 09:00pm eu já estava no quarto, pronta para falar com as pessoas no Brasil e dormir. Meus amigos nem tinham começado a Ceia ainda, estavam nos preparativos, enquanto a minha tinha chegado ao fim. Era engraçado e ao mesmo tempo solitário. Mas voltamos ao ponto: Olhe onde você está Danni! Não jogue essa chance fora.

Na semana que antecedeu o Ano Novo, dei o melhor de mim com um mega sorriso no rosto. A minha turma de Alemão estava em Férias de Inverno e eu pude colocar o idioma em prática nas ruas, supermercados, padarias e no dia a dia. Então veio a tão esperada noite de ano novo.

Não demorei muito para decidir o que usaria, no final das contas teria um casaco imenso e botas de neve para acabar com qualquer produção. Saí de casa pouco depois das 10:00 pm, sem saber para onde iria. Havia um pequeno agravante: às 4:00 pm o dia já havia desaparecido e começava a escurecer, as ruas em Klagenfurt eram desertas e sair em uma rua daquelas em São Paulo seria o mesmo que suicídio. Mas eu fui. O lugar me passava tranquilidade. Andei por uns minutos, meus pés afundavam nas grossas camadas de neve ao longo do caminho, até que eu me perdi. Olhei no celular e faltavam 30 minutos para 00:00, eu não fazia ideia de onde estava e só me restava andar até chegar a algum lugar antes do ano virar.

Continua…

 

 

 

 

1 comentário

  1. Stéh Stoffers · dezembro 21, 2015

    Nem parece que passou tanto tempo meu deus, era você sumir duas horas do celular, que eu estava chorando preocupada, como ia te resgatar tão longe! enfim, tudo valeu a pena. ❤

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